Georgina Maynart nasceu em
Paripiranga, cidade baiana do polígono da seca. Veio para Salvador aos 16 anos
para fazer o curso de Jornalismo da Universidade Federal da Bahia, onde se
formou em 1998. Desde
então, trabalhou com telereportagem na TVE e há cerca de cinco anos, é repórter
da TV Bahia. Georgina teve a educação como ferramenta para superar as dificuldades
impostas pela vida. Filha de uma funcionária pública e um diretor de colégio,
ela estudou em escola pública. Ciente das dificuldades do dia-a dia, é
defensora das cotas, sistema de inclusão de estudantes de específicas etnias em
universidades públicas. Com
muita garra, determinação e incentivo de sua família, ela conseguiu
cursar Comunicação em uma das instituições mais concorridas do Brasil, a
Universidade Federal da Bahia (Ufba) e cursar Direito na Universidade Católica
de Salvador (UCSal), curso do qual desistiu devido às dificuldades financeiras.
Dificuldade no início de sua carreira e durante o curso:
Olha, há mais dificuldade em relação ao mercado de trabalho, que é muito restrito aqui da Bahia. Nós temos poucos jornais impressos, poucas tevês, então, isso dificulta um pouco. Eu tive sorte porque eu fiz o curso na Universidade Federal da Bahia e, no segundo semestre, apareceu um anúncio no mural da universidade, de um estágio na TV Educativa. Então, eu disse assim: “Eu acho que essa é a oportunidade de eu tentar alguma coisa. É uma chance”. Era um estágio que não pagava quase nada, mais ou menos uns 80 reais, mas para mim já era muita coisa. Eu era uma estudante pobre e isso já ia ajudar a pagar o transporte e a tirar xerox. A maioria dos meus colegas não gostou muito da ideia, porque pagava pouco. Foi assim que comecei. Os estagiários de hoje em dia, pelo menos nas grandes redações, fazem as pautas, acompanham a rotina de trabalho e são cobrados como um profissional já contratado. O estágio era de quatro horas, eu trabalhava além do meu horário, ficava acompanhando os outros setores, ia pra edição, ia pra parte do estúdio, ficava xeretando um pouco para aprender.
Olha, há mais dificuldade em relação ao mercado de trabalho, que é muito restrito aqui da Bahia. Nós temos poucos jornais impressos, poucas tevês, então, isso dificulta um pouco. Eu tive sorte porque eu fiz o curso na Universidade Federal da Bahia e, no segundo semestre, apareceu um anúncio no mural da universidade, de um estágio na TV Educativa. Então, eu disse assim: “Eu acho que essa é a oportunidade de eu tentar alguma coisa. É uma chance”. Era um estágio que não pagava quase nada, mais ou menos uns 80 reais, mas para mim já era muita coisa. Eu era uma estudante pobre e isso já ia ajudar a pagar o transporte e a tirar xerox. A maioria dos meus colegas não gostou muito da ideia, porque pagava pouco. Foi assim que comecei. Os estagiários de hoje em dia, pelo menos nas grandes redações, fazem as pautas, acompanham a rotina de trabalho e são cobrados como um profissional já contratado. O estágio era de quatro horas, eu trabalhava além do meu horário, ficava acompanhando os outros setores, ia pra edição, ia pra parte do estúdio, ficava xeretando um pouco para aprender.
Como surgiu o interesse por Jornalismo:
Meu pai era professor e sempre gostou muito de ler. Então, a questão de
ler muito, que é básico para o jornalista, veio lá de casa. Mas na minha
família existem mais advogados, na de minha mãe são oito. Se dependesse deles
eu teria feito direito. Fiz três anos. O curso está lá trancado. O que me fez
optar por jornalismo foi mais essa ideia de prestar um serviço social. E ainda
tinha um pouco aquele sonho de jornalistas de: “Ah! Vamos revolucionar o
mundo”. Quando eu fiz jornalismo já havia dois ou três anos de abertura
política, o país respirava ares mais democráticos, teve o impeachment de Collor
e a imprensa foi muito importante naquela época. E eu sempre gostei um
pouquinho de escrever.
Jornalista, negra e mulher! Ela
fala se já sofreu preconceito:
Eu acho que no Brasil é muito difícil você encontrar alguém que não
sofreu preconceito. Por ser mulher, ou por ser muito pobre, ou porque é rica
demais, porque você está mal vestido ou porque você se comportou da forma
inadequada, fora dos padrões sociais. Mas eu acho que é mais um desafio. Até
mesmo porque o preconceito às vezes aparece no momento mais irrisório da
rotina. Por exemplo, vai fazer uma
matéria que vai precisar subir uma montanha ou uma torre: “Ah! Coloca um
repórter homem, que vai ser muito mais fácil pra ele subir”. Aí você tem que
falar: “Não, coloca um humano”. A gente vive numa sociedade estigmatizada.
Errar é humano, mas quando o profissional é mulher, é negra e erra, a primeira
coisa que vão pensar é: “errou porque era mulher, porque era negra, e não teve
sensibilidade nem foi suficientemente capaz de entender e contornar a situação”.
Suas dicas para estudantes de
jornalismo:
Ler é essencial. Não só
livros de grandes reportagens, mas os clássicos em geral. Ler é necessário para
qualquer profissional, não só para o jornalista. Tem que ler jornal todo dia,
pelo menos os principais. E não ler apenas livros jornalísticos. Ler Caco
Barcellos; Fernando Morais; literatura americana; Capote; Tom Wolfe, enfim. Ler
romances, estar lendo alguma coisa sempre. Porque é informação e em algum
momento você vai precisar de informação porque vocês podem dizer: “Ah! Vou
trabalhar só com política, só jornalismo político”. Aí, de repente você está lá
conversando com o político e ele fala alguma coisa de literatura e você não
sabe.
Sua opinião em relação aos padrões da mídia:
Eu acho que a gente tem
muito ainda o que avançar, porque o estereótipo do negro na mídia ainda é muito
negativo. Em relação ao jornalismo, nós ainda temos poucos jornalistas negros
na televisão e eu acho que temos ótimos profissionais no mercado, só precisam
de oportunidade. Acho que isso acaba lidando também com a falta de respeito com
a diversidade brasileira. O negro não se vê na televisão, o índio também não. E
nós estamos longe de ser a minoria. Somos maioria e dividimos, pelo menos
concretamente, o mesmo espaço com as outras etnias. Para isso, buscar o
conhecimento é importante. A questão das cotas vai se refletir mais adiante
nessa questão. Quando você abre espaço para um estudante de comunidade pobre,
que é negro ou índio, ele vai ter condições de se capacitar para ir ao mercado.
Já fizeram pesquisas, inclusive nos resultados da UNEB e nas universidades do
Rio de Janeiro, e viram que os estudantes cotistas alcançaram um nível de
aprovação bem mais alto do que os estudantes que não são cotistas. Então,
significa que lá dentro eles estão se virando, estão aprendendo. Acho que essa
questão da educação, do conhecimento, é essencial para desfazer esses equívocos
que existem ainda hoje. Quanto mais profissionais bem qualificados nós tivermos
saindo da universidade, mais fácil vai ser inserir essas pessoas na mídia. Eu
era praticamente a única negra na minha turma e tive a sorte. Na minha época
não existiam cotas. Por isso, acho o sistema de cotas importante nesse momento.
Reconhecimentos e prêmios:
* Prêmio Mário Gusmão - Fórum
Internacional 20 de Novembro (2013)
* Prêmio Latino-Americano de Jornalismo - Sociedade Interamericana de Cardiologia (2009)
* Prêmio Banco do Brasil de Jornalismo (2000)
* Troféu Coelba de Reportagem ( 2000)
* Reconhecimento Unicef - Infância na Mídia
* Prêmio Latino-Americano de Jornalismo - Sociedade Interamericana de Cardiologia (2009)
* Prêmio Banco do Brasil de Jornalismo (2000)
* Troféu Coelba de Reportagem ( 2000)
* Reconhecimento Unicef - Infância na Mídia
Fonte:Google
Isabel Portela